Documentário de doutoranda da Fale retrata luta das comunidades quilombolas pela preservação de sua identidade e de seus territórios
“Não
existe comunidade quilombola que sobreviva sem seu território". A sentença
do presidente da Associação do Quilombo Mangueiras, Maurício Moreira dos
Santos, resume a essência da luta das comunidades quilombolas de Belo
Horizonte, retratada no documentário Vozes da resistência: os quilombos urbanos
de Belo Horizonte, da doutoranda em Estudos Linguísticos da UFMG, Zuleide
Filgueiras.
Com 100 minutos de
duração, o documentário aborda três comunidades: Mangueiras, na região Nordeste
da capital mineira, Luízes, no bairro Grajaú, na Zona Oeste, e Manzo Ngunzo
Kaiango, que fica no bairro Santa Efigênia, na região Leste. O lançamento será
no próximo dia 8, no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes.
Entre as
"personagens" estão as matriarcas das três comunidades: Maria Bárbara
(Mangueiras), Anna Apolinária (Luízes) e Maria da Conceição (Manzo). Também
foram entrevistados o professor de Antropologia da UFMG Aderval Costa Filho, o
presidente da Confederação das Comunidades Quilombolas de Minas Geras, Jésus
Rosário Araújo, e os defensores públicos Estêvão Ferreira Couto e Giêdra
Cristina Pinto Moreira.
O tema central é a
regularização fundiária das três comunidades, que se tornaram alvos da
especulação imobiliária. "Idealizei um filme com a proposta de ouvir a voz
dos quilombolas sobre questões que lhes eram importantes e auxiliá-los na
conquista de seus direitos e na divulgação de demandas. Na decupagem dos
depoimentos, ficou claro que o tema que mais angustiava as comunidades era a
regularização fundiária de seus territórios", ressalta Zuleide, que
começou a frequentar os quilombos em novembro de 2014. Em média, ela realizou
cinco visitas a cada comunidade retratada, em dias comuns, de festas e
celebrações.
Outra
perspectiva
O interesse de Zuleide
Filgueiras pelo tema surgiu quando cursava disciplinas na pós-graduação nas
quais teve a oportunidade de analisar pesquisas etnolinguísticas da fala em
comunidades quilombolas. "Ali, travei o primeiro contato com o tema fora
da perspectiva histórica dos quilombos formados por escravos evadidos das
fazendas e seu sistema de ‘casa-grande-e-senzala’, em busca de liberdade e de
uma organização social alternativa, igualitária", conta a doutoranda.
O envolvimento aumentou
ao ingressar na Defensoria Pública da União, onde passou a acompanhar o
trabalho do defensor Estêvão Couto na defesa dos interesses dos quilombos de
Belo Horizonte. No fim do ano passado, ela chegou a planejar a produção de
curta-metragem focado apenas em uma comunidade, mas o defensor (que assumiu
posteriormente a direção de conteúdo e a supervisão geral do documentário)
sugeriu que a produção também incorporasse outros dois quilombos.
'Engolidos'
pela cidade
Comunidades rurais que
viviam da agricultura familiar e da criação de animais, os quilombos foram
"engolidos" pelas cidades, o que acabou acentuando seu relacionamento
com elas pela necessidade de trabalho remunerado ou de acesso a serviços
públicos. Das três comunidades, explica Zuleide Filgueiras, a única que guarda
traços de ruralidade é Mangueiras, que mantém atividades de criação de animais
e cultivo da terra.
A diretora ressalta que
a importância do espaço do quilombo ultrapassa as fronteiras físicas e alcança
aspectos relacionados à ancestralidade étnico-racial e à memória coletiva.
"Apesar dos raros registros documentais, sabe-se que os quilombos de
Mangueiras e dos Luízes, por exemplo, já estavam assentados no antigo Curral
Del Rey antes mesmo dos projetos da construção de Belo Horizonte", afirma.
Zuleide explica que o
território quilombola é resultado da apropriação, histórica e social, por
grupos étnicos organizados. "Ainda que muitos desconheçam, quilombola é um
termo contemporâneo. Lugar que existe e resiste nos dias atuais, reunindo todas
as lutas dos negros de ontem e de hoje", conclui.
Documentário: Vozes da resistência: os quilombos urbanos de Belo
Horizonte
Direção: Zuleide Filgueiras
Direção de conteúdo: Estêvão Ferreira Couto
Lançamento: 8 de outubro, às 19h, no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes
Direção: Zuleide Filgueiras
Direção de conteúdo: Estêvão Ferreira Couto
Lançamento: 8 de outubro, às 19h, no Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes
0 comentários:
Postar um comentário