CARTA ABERTA E SOLICITAÇÃO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA
A crescente escalada das múltiplas formas de expressão e de exercício de violências, opressões, discriminações, de todos os tipos, no âmbito da UFMG, representada no ato inaceitável do Trote, realizado na Faculdade de Direito no último dia 15 de março, é um fato grave e extremamente preocupante para a comunidade universitária e, também, para a toda a sociedade brasileira.
Vários de nós, signatários desta Carta, estamos, há anos, denunciando, criticando e dentro das nossas possibilidades reais, tentando concretizar ações de enfrentamento e de resistência a estas manifestações de ódio explícitas dentro de nossa comunidade e mesmo fora dela. Reconhecemos, contudo, que tais ações, como são frutos de nobres iniciativas pessoais e coletivas, de professores/as, discentes e servidores técnico-administrativos e seus respectivos Grupos de Pesquisa, Centros e Núcleos, terminam por ser, necessariamente, fragmentadas, pulverizadas e, infelizmente, ainda pouco efetivas para inibir a difusão dessa cultura nefasta de intolerância e ódio que vem se disseminando,também entre nós e no nosso país.
Entendemos ainda que chegamos a um ponto tal de gravidade na experiência de impunidade em relação a estas continuadas manifestações de discriminação e de ódio (raciais, sexuais, classistas, geracionais, no mínimo), que francamente já revelam o seu caráter abertamente institucionalizado na UFMG. Entendemos, assim, que é necessário e mesmo URGENTE que a administração central dessa valorosa universidade – seu Reitorado atual (e os demais que virão) - venha(m) a demonstrar, de forma inequívoca, o seu real compromisso com a interrupção imediata destas manifestações de ódio e com a difusão efetiva de uma cultura que, de fato, seja congruente com qualquer missão universitária: o reforço e o apoio na construção de uma cultura universitária baseada na pluralidade, na democracia, na abertura, na inclusividade, na transparência, no diálogo permanente e na participação cidadã.
Esclarecemos, de antemão, que, para além de desejarmos a punição exemplar para os estudantes que praticaram o Trote machista, nazista e racista na Faculdade de Direito, que viemos a público exigir da UFMG que venha a se comprometer, transparentemente, com a instauração imediata de ações que se constituam, desta vez, em uma rede sinérgica, orquestrada, permanente e qualificada no escopo de seus pilares – ensino, pesquisa e extensão - de uma real POLÍTICA INSTITUCIONAL DE ENFRENTAMENTO A TODAS AS FORMAS DE OPRESSÃO, DISCRIMINAÇÃO E VIOLÊNCIA no âmbito da UFMG. Estamos todos/as aqui, signatários desta Carta, dispostos/as a colaborar de forma efetiva para a construção coletiva desta política institucional em nossa Universidade. Porisso, solicitamos uma AUDIÊNCIA PÚBLICA ao Magnífico Reitor da UFMG, o Professor Clélio Campolina, onde poderemos abrir o espaço de interlocução com nossa administração central, no sentido de visibilizar e fortalecer tal intenção e também de colaborar diretamente com o início da sua formulação, que, em nosso entender, precisa ser imediata.
Destacamos ainda que estamos acompanhando, muito de perto, cada um dos desdobramentos do Trote da Faculdade de Direito, que antecipávamos já a dilatação do prazo das conclusões da Comissão de Sindicância instaurada por mais 30 dias e que repudiamos veementemente tal atitude, pois a mesma só vem colaborar, e até mesmo incentivar, com o clima de permissividade, de impunidade que alimenta tal cultura de ódio entre nós. Salientamos, contudo, que vamos continuar a monitorar esse processo e seus desdobramentos finais, para que possamos, assim como foi feito com sinal negativo colocar a UFMG no noticiário nacional e internacional, revelar para a sociedade de Minas Gerais, do país e do exterior, que temos sim um compromisso real com a construção de uma cultura acadêmica de e para os Direitos Humanos, inclusive entre nós, na UFMG.
Belo Horizonte, 03 de maio de 2013.
Para assinar a carta procure o programa ações afirmativa na UFMG - Sala 1666 - de segunda a sexta-feira de 14:00 ás 18:00 horas.