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PALESTRA DEBATE RELAÇÃO ENTRE ESCOLA E COMUNIDADE QUILOMBOLA

Promovida pelo Projeto de Extensão “Construindo Espaços de Diálogos e Reflexão sobre Metodologia de Pesquisa sobre Relações Raciais e Ações Afirmativas” (CP/UFMG/Programa Ações Afirmativas) aconteceu no dia 29 de setembro - Continue lendo aqui.

O que mais temos a refletir sobre os estudantes cotistas da UFMG?

No dia 30 de abril de 2015 a Pró-reitora de graduação da UFMG promoveu um evento para apresentar dados do Sisu (Sistema de Seleção Unificada do Governo Federal) e do perfil discente da UFMG...

Denúncias de racismo duplicam em quatro horas

Uma modelo no Distrito Federal sofreu um ataque racista dentro de um ônibus por usar um turbante. Uma estudante foi agredida por intolerância religiosa dentro da escola... continue lendo aqui.

É AMANHÃ: Roda de Conversa sobre educação escolar quilombola



Conheça nossas convidadas:

Aline Neves

Possui graduação em Geografia (licenciatura) pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Mestrado em Educação pela Faculdade de Educação (FaE/UFMG), é integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Ações Afirmativas (NERA-CNPQ) e integrante do Grupo de Estudos Interdisciplinar Quilombola do Observatório de Educação Escolar Quilombola e Indígena (GEIQ-OBEDUC).

 

Suely Santos

É Assistente Social e Terapeuta Floral. A aliança dessas duas profissões propicia trânsito entre a psicologia analítica de Jung, a psicologia social, a cultura e a religiosidade afro-brasileiras, a mitologia e culturas africanas, a educação e ainda, a filosofia de Eliade e as sociologias de Bourdieu e Santos. A interdisciplinaridade formada pela união dessas áreas de conhecimento tem permitido uma atuação diversificada diante das realidades apontadas por movimentos sociais, negros, feministas, culturais e quilombolas.

Lilian Gomes

Pós-doutorado em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais. Doutora e Mestre em Ciência Política pela UFMG. Especialista em História do Brasil pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Graduada em História pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB). É responsável técnica do Projeto Formulação de uma Linguagem Pública para Comunidades Quilombolas desenvolvida pela UFMG através de parceria firmada com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA/ Nead/Incra).

Para as meninas quilombolas a hashtag não chega



Diferentemente da comoção em torno de Valentina, do Masterchef Júnior, o caso das meninas negras abusadas no interior de Goiás foi logo esquecido.

Em abril deste ano, foi noticiada a denúncia de trabalho infantil e exploração sexual contra crianças e jovens negras da comunidade quilombola Kalunga, em Cavalcante (GO), cidade localizada na Chapada dos Veadeiros, a 310 km de Brasília.

Os relatos dos abusos, investigados pela Polícia Civil, foram à época transmitidos à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (hoje Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos) pelo presidente da Associação do Quilombo Kalunga de Cavalcante (GO), Vilmar Souza Costa.

O assunto veio à tona numa reportagem da TV Record e denunciava o possível envolvimento de vereadores e ex-vereadores do município em casos de assédio sexual cometidos contra crianças e adolescentes negras.

Segundo informações da Record, o inquérito dessas denúncias surgiu no final de 2014, a partir de apontamento do Ministério Público de Goiás e mostra que Cavalcante registra, em média, cinco inquéritos similares por ano.

Após o caso de Valentina, a menina de 12 anos participante do programa Masterchef Júnior, que foi vítima de comentários criminosos por pedófilos nas redes sociais, me lembrei desse caso das meninas kalungas. Como será que o caso está?

Houve uma grande repercussão à época da denúncia, mas nada parecido com o que ocorreu com
Valentina. Com isso, não estou afirmando de modo algum que a violência contra Valentina não deveria ser denunciada e apurada, estou tão somente externando um incômodo por não ter visto grandes sites feministas criarem campanhas de apoio às meninas kalungas ou maior comoção das pessoas.

A realidade dessas meninas é bem diferente da de Valentina. Tratam-se de meninas pobres que desde muito cedo vão trabalhar e ser exploradas em casas de famílias onde trabalhariam em troca de alimentos. Nesses locais, sofreriam os abusos sexuais pelos patrões. Na comunidade onde vivem não há escolas e, ao viverem longe dos pais, vivenciam maior vulnerabilidade.

Meninas negras, por sofrerem machismo e racismo, estão muito mais vulneráveis a esse tipo de abuso. Segundo dados da Unicef na pesquisa Violência Sexual, o perfil das mulheres e meninas exploradas sexualmente aponta para a exclusão social desse grupo.

A maioria é de afrodescendentes, vem de classes populares, tem baixa escolaridade, habita em espaços urbanos periféricos ou em municípios de baixo desenvolvimento socioeconômico. Muitas dessas adolescentes já sofreram inclusive algum tipo de violência (intrafamiliar ou extrafamiliar).
Ainda segundo essa pesquisa, no Centro-Oeste, o estado de Goiás é o que apresenta a situação mais grave – exatamente onde as meninas kalungas vivem.

Toda campanha criada no sentido de denunciar esse tipo violência é válida e necessária, mas é urgente pensarmos a partir de um olhar interseccional para que seja possível contemplar meninas com maior vulnerabilidade, sobretudo negras.

Pesquisei sobre a situação dessas meninas e não encontrei nenhuma informação que falasse sobre o andamento do caso. No mundo delas, onde campanhas com hashtag não as alcançam, quem não vai deixá-las cair no esquecimento?



Por Djanila Ribeiro (publicado em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/para-as-meninas-quilombolas-a-hashtag-nao-chega-7864.html, 27/10/2015)